Livros
Apontamentos imagético-interdisciplinares: as artes iconológica, pictográfica e literária
Realizando uma interligação de saberes em cinco ensaios, o professor Jack Brandão propõe-se a mapear grandes ramos de conhecimento de nosso tempo, procurando fundir o passado com o presente. Visa, com isto, não só a derrubar o princípio de compartimentação dos saberes, como também a investir contra a ideia de que o pesquisador precisa fazer terra arrasada do conhecimento dos antigos, para substituí-lo pela tirania do novo. Para realizar isso, utiliza-se de um eixo, entrevisto na questão da imagem e, por extensão, do olhar perceptivo do decodificador. A profusão das análises de telas, esculturas, fotografias, palimpsestos e gravuras, por parte do pesquisador, leva-nos à profunda compreensão do olhar e da percepção que, por sua vez, nos leva à compreensão mais adequada do mundo.
Novas questões sobre a imagem:
de objeto de pesquisa a pesquisa do objeto
Estamos inseridos em uma realidade imagética que se acredita sem precedentes e cujo princípio motor teve grande participação da fotografia. No entanto, este momento de iconofilia não foi único na história da humanidade, basta se verificar, por exemplo, o papel desempenhado pela imagem num período tão rico em contrastes como o Seiscentismo e confrontá-lo com nossa contemporaneidade. Assim, este livro oferece aos interessados pelo tema e aos pesquisadores, cujo escopo é a imagem, alguns resultados dos trabalhos do Centro de Estudos Imagéticos CONDES-FOTÓS (antigo CONDESIM-FOTÓS). Este tem como objetivo principal tecer reflexões teóricas e práticas em torno da construção, desconstrução e refração imagéticas na arte – pictórica, escultórica e literária –, em especial do período que abrange o medievo e os séculos XVI, XVII e XVIII, a fim de se compreender como se processa sua recepção, hodiernamente, diante da perda de parte seu referencial.
Imagem: reflexo do mundo e do homem? Questões acerca de iconologia, iconografia e iconofotologia
Quando hoje nos vemos cercados por uma infinidade de imagens, não nos damos conta de seu poder sobre nós; pelo contrário, acreditamos ser seus senhores e que impomos nossa vontade e nossos desejos sobre elas. Claro está que, ao pensarmos assim, agimos de modo infantil, pois não se pode negar o óbvio: somos tão vulneráveis a elas como eram os povos ditos primitivos, antes mesmo do apogeu das grandes civilizações. Talvez haja sim uma grande diferença entre nós e nossos predecessores e essa não é apenas a propagação sem limites das imagens como se verifica hoje – em meio a um sem número de mídias que temos à disposição –, mas o fato de sempre lutarmos contra elas, não admitindo nossa sujeição e, pior, não acreditando nela. Ao agirmos assim, esquecemo-nos de sua capacidade particular de mediação, a qual controla a percepção que temos do mundo; levando-nos, por exemplo, a enxergar, ou não, este ou aquele objeto; ou a enxergá-lo como querem seus propagadores.
Construção e desconstrução imagética dos políticos nas campanhas eleitorais
Quando, na antiga Babilônia, o rei Hamurabi mandou que se expusesse seu famoso código à vista de todos, fez uma clara demonstração de seu poder; mas, para isso, empregou o lógos: a palavra não apenas se transmutou em lei, em princípio norteador da sociedade na qual está inserida, como também serviu para exaltar o poder de quem a estabelecera. No entanto, com os gregos e com o advento daquilo que chamamos de política, a relação com a imagem e seu emprego se refinou em relação a esse período anterior. É, nesse contexto, em que se insere Construção e desconstrução imagética dos políticos nas campanhas eleitorais, de Edney Firmino Abrantes que vem assinalar, de forma clara e didática, como se processa a construção e a desconstrução da imagem do político, de modo especial nos dias atuais.
Infância e educação: construção e representação imagética
Temos, nesta obra da professora Elizabeth Takeda, uma leitura/interpretação logo-imagética que nos mostrará as grandes mudanças percebidas e efetivadas no conceito de infância (bem como no da Pedagogia que caminha a seu lado), cuja posição social foi, durante séculos, diminuída e menosprezada. Para isso, ela parte de teóricos e de teorias que inseriram a criança no interior do motor social, como também de sua inserção no ambiente escolar, tendo como escopo sua representação imagética ao longo dos séculos. Para realizar isso, Takeda parte de duas indagações: a) seria possível detectar, por meio das imagens, a construção e a representação da infância e da educação?; b) seria possível, por meio dessas representações artísticas, perceber as mudanças socioculturais observadas ao longo desse período?
Apesar de a ideia trinitária estar presente na Igreja, mesmo que de forma não clara desde a Era Apostólica, afinal foi declarada pelo próprio Cristo quando determinou que seus discípulos saíssem pelo mundo e batizassem todos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o conceito de um Deus Uno e Trino demandou intensos debates durante mais de três séculos para ser, oficialmente, declarado. Após essa longa maturação, tal proclamação se deu após o Concílio de Niceia, convocado pelo próprio Imperador Constantino, em 325 A.D., por mais de trezentos bispos que ali representavam toda a cristandade. Abria-se, de certa maneira, a partir daquele momento, inclusive a possibilidade de se representar, imageticamente, a Santíssima Trindade, conforme nos mostrará Christiane Meier nesta instigante obra que, seguramente, vai se tornar uma referência no assunto.
Imagem: questões socioculturais e antropológicas
Se é verdade que a tradição é a memória dos povos, seu zelo é o desejo por continuidade. Assim, esta obra revive tradições e modelos de atuação, quando revisita as páginas da história que surge aqui não como uma tautologia inútil, mas como aspiração ao conhecimento, como zelo pelo humaniorum, corroborando verdades atuais.
Nada mais lógico e desejável que se traga ao público a salvaguarda e o diálogo entre antropologia, sociologia e cultura pelo viés da imagem inserida em nossa atualidade.
Assim, os trabalhos aqui reunidos demonstram ser representativos não só de uma série de questões que dão abertura a diversas reflexões, nas quais se encaixam o sentido da imagem, como também de sua relação com a objetividade de nossos dias. Longe de pensar que a atualidade seja uma noção simples, ela é condicionada a um regime de certa forma causal; e, por ser igualmente temporal, ela revigora e atualiza possibilidades. Por isso o contraponto entre atualidade e tradição tem em comum um só desejo: a continuidade de tudo que é.